Eu sei todas as palavras

— Olha filho, uma detoneira.

— Não é mamãe, você falou errado, é betoneira. Não pode falar errado.

— É, a mamãe falou errado, eu não sei todas as palavras.

Eu sabo.

— Ah é? Você sabe? Então como é o nome daquele carro que está passando ali?

— Hummmmmmmmmm. Moto! (tinha um moto do lado do carro)

— Não, filho, aquele carro se chama Corsa. E como é o nome daquela farmácia ali na esquina?

— Droga Vaia (eu não falo bem o R).

— Viu, muito bom, essa palavra você sabia… Entendeu, nós dois estamos aprendendo as palavras. Nós não conhecemos todas elas.

Mamãe ficou perguntando tudo, a viagem toda para casa.

O que é um cofrinho?

braquiossauro de brinquedo

Se você ainda não sabe eu explico: um cofrinho serve para comprar braquiossauros. Não entendeu? Então eu vou tentar falar do jeito que meu papai explicou.

Toda vez que eu ganhava moedinhas do papai, da mamãe, ou vovôs o papai falava para colocarmos no cofrinho que depois eu poderia comprar alguma coisa bem legal. Isso se chama economizar. Isso acontecia todos os dias.

Toda vez que alguém aparecia lá em casa eu explicava que o cofrinho era onde eu guardava minhas economias e que iria comprar algo bem legal mais tarde.

O papai disse que era proibido abrir o cofrinho até que ele ficasse bem cheio. Toda vez que eu colocava uma moeda eu dizia: “Está cheio, vamos abrir”. E o papai falava que ainda tinha espaço para mais dinheiro. A espera estava acabando comigo! Eu queria abrir logo aquele cofrinho.

Então chegou o dia em que eu tentei enfiar a moeda, mas ela não entrava mais. E o papai disse: “Está cheio. Vamos abrir?” Foram as palavras mais lindas que eu já ouvi sairem da boca dele. Abrimos o cofrinho, separamos um montão as moedas. Colocamos as parecidas juntas umas das outras e contamos tudo. O papai colocou tudo em um saco plástico. Ficou tudo guardado na minha mochila.

Ontém fomos ver os dinossauros lá no shopping. Que bichos grandes! O papai disse que eles não existem mais, que todos eles desapareceram. Eles não pareciam desaparecidos para mim, pois se mexiam e faziam barulhos assustadores. O papai disse que eram apenas bonecos grandes que se mexem, mas eu não sei, não. O último dinossauro tinha a altura da minha casa e soltava fumaça da bunda. O papai disse que era um mega-punzão, mas eu não senti cheiro ruim nenhum. O meu pum cheira pior.

No final do passeio tinha um lugar cheio de dinossauros pequenininhos que eu podia pegar nas minhas mãos. Esses sim eram mesmo de brinquedo. Mas o problema é que eles custavam dinheiro para eu levar para casa. Então o papai lembrou: “Você tem dinheiro! Você economizou, lembra?”

Ebaaaaaaa!