Estes dias eu tava correndo muito rápido lá na casa do vovô e bati a cabeça na porta. Doeu muito e eu comecei a chorar.
O vovô Joca veio rápido e disse: “Porta feia! Porta boba! Bate na porta Heitor!” Eu fiquei muito brabo com a porta mesmo.
Hoje eu estava brincando com o móvel de madeira que fica embaixo da televisão da sala. Ele é muito legal porque tem buracos onde eu enfio meus brinquedos, estaciono meus carrinhos… O papai e a mamãe falam para eu não brincar ali, porque eu posso me machucar. Mas é tão legal… Eu não ressito.
Tentando pegar meu trenzinho que tinha ido lá no fundo eu bati a testa com força na madeira… Sabe quando a gente abre a boca para chorar, quando dói demais, e fica um tempão entrando ar e parece que o choro não vem, só pro choro vir bem forte depois? Doeu muito e eu chorei bem alto.
Quando consegui ar suficiente para falar de novo eu disse: “Madeira feia! Madeira boba!”. A mamãe que estava fazendo carinho na minha cabeça esperou até a dor passar, enquanto eu ficava batendo com a mão na madeira. “Madeira feia! Madeira boba!”, repeti.
“Filhinho, o que a madeira fez para você?”
“Bateu, mamãe.”
“Foi você que bateu a cabeça nela filho. Ela estava parada. A madeira não tem culpa.”
“Mas doeu muito, mamãe.”
“A mamãe e o papai avisam o tempo todo que brincar ali é perigoso. Não é verdade?”, ela insistiu.
“É”, respondi.
“Então foi a madeira que machucou o Heitor ou o você que tem que tomar mais cuidado?”
Fiquei pensando.
“O melhor é sempre tomar cuidado e ouvir o papai e a mamãe, não é?” Perguntou.
Mamãe falou certo. A culpa não é das coisas, sou eu que tenho que tomar mais cuidado para não me machucar.
Passei a ouvir melhor a mamãe e o papai.
“A madeira é boa, filhinho. Ela sustenta a televisão onde você adora assistir seus programas.”
Mamãe sempre explica as coisas.