Uma história inventada

Eu estava conversando com a minha priminha e falei:

— Agora eu tenho uma bicicleta.

— Eu ganhei uma bicicleta também. Ganhei do Papai Noel.

— Você não ganhou do Papai Noel.

— Ganhei sim, foi o Papai Noel que me deu.

— Não, ele não deu não.

Ela começou a chorar.

— Ganhei sim! — E saiu gritando. — Né, vó, que eu ganhei a bicicleta do Papai Noel?!

Eu fui atrás dela insistindo:

— Mas fui eu que comprei a minha bicicleta, com o meu dinheiro.

Eu sei que o Papai Noel é uma história inventada. É um homem que coloca roupa vermelha e um cabelo branco no queixo. Mas o Papai e a Mamãe conversaram comigo e disseram que tem crianças que acreditam que ele é de verdade e que é ele que dá os presentes para as crianças. Mas quem dá os presentes são os papais e os avós.

Quando eu casar

O papai e a mamãe estavam me ensinando os nomes certos dos dedos da mão, usando a mão do papai: polegar (mata piolho), indicador (fura-bolo), dedo médio (pai de todos), anelar… Peraí…

— O papai está usando um anel!

— É uma aliança de casamento, filhinho. Disse a mamãe.

— O que é uma aliança?

— Quando você for maior e gostar de uma mulher você vai querer casar e…

— Eu quero casar com você.

— Mas eu já sou casada com o papai. Você terá que casar com outra mulher.

— Eu não gosto de outra mulher.

— Quando você for maior, vai gostar.

Menino Bonzinho

Eu estava com a mamãe no Shopping e o Papai Noel estava dando balinhas para as crianças. Eu corri lá e pedi uma balinha também.

— Eu quero uma balinha, por favor.

— Então me dá um abraço.

Dei uma abraço meio de longe, porque o cabelo dele era no queixo.

— O que você quer ganhar de presente de Natal?

— Uma bicicleta.

— Você tem sido um menino bonzinho?

— Sim. Eu tô economizando e vou comprar uma bicicleta pra mim.

Ganhei a balinha e saí correndo.

Desenha um pinto?

O Heitor veio aqui em casa, e fomos brincar de desenhar. Lá pelas tantas, ele me pediu:

– Tia Mi, desenha um pinto?

– Hein?!

– Desenha um pinto tia Mi…!

– Um pintinho de galinha?

– Não tia Mi! Um pinto…!

– Um “bilau”?

– É!

Então a tia Mi foi desenhando o Heitorzinho de perfil, e o Heitor foi colaborando, dizendo sempre o próximo passo… cabeça, pescoço, barriga, pinto.

– O saco, tia Mi, o saco!

Pernas, os pés com tênis, bum-bum, e ele adorou o desenho. Então, ele pegou um papel, começou a desenhar, e disse:

– Tia Mi, to desenhando a tua bunda!

– hein?!

– A tua bunda tia Mi, to desenhando…

– Ahhhh…

– “Agola” to desenhando o teu pinto…

– Ah… mas então não é a minha bunda…

Ele me olhou intrigado…

– Não pode ser a minha bunda Heitor, eu não tenho pinto, eu sou mulher…!

Ele ficou pensativo uns instantes, abaixou a cabeça e começou a rasurar o desenho… eu perguntei:

– O que q vc tá fazendo Heitor?

– Tua “peleleca”!

– Ahhh, agora sim! É minha bunda…

A tia Mi deu muita risada…

Não ‘quelo’ lavar as mãos

Eu e o Heitorzinho estávamos brincando de explorar o quintal.

Depois de um tempo nos divertindo, o Heitorzinho já estava cansado e com fome, e eu lhe ofereci uma mamadeira, que ele aceitou com alegria!

Então lhe falei que ele tinha que lavar as mãozinhas, pois tínhamos pegado até no pêlo do cachorro e penas de passarinhos… mas ele disse que não queria lavar as mãos…

– Heitor, temos que lavar as mãos, porquê vc vai mamar, e suas mãozinhas estão sujas…

– Não “quelo”

– Mas Heitor…

– Não “quelo”

– Venha aqui conversar um pouquinho com a tia… Olha só… as mãos da tia também estão sujas, porque a tia também brincou com você… E a tia vai fazer o teu “mamá”… você quer que a tia faça o teu mamá com as mãos sujas?

Então ele pensou um pouco, me olhou e disse:

– Então você “pimelo”!

E fomos nós dois lavar as mãos bem felizes!